A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Conto de fadas moderno

Era uma vez uma cama e duas pessoas.

Um sofá-cama e dois corações, na verdade.

Ela sorria enquanto mexia com as plantas, e ele sorria por simplesmente ter uma linda visão de uma bela mulher sorrindo.
Um trago e uma risada.
Um pouco de tosse às vezes.

Cof cof.

- Bebe água.

E ele a beijava enquanto ignorava a indicação.
Ambos ignoravam a brasa que se apagava por conta do beijo de longa duração e quando iam reacender, riam de si mesmos, por se encontrarem assim por mais uma noite, e então selavam a risada com um pequeno beijo.

- Apaga a luz.
- Você tá mais perto.
- Preguiçoso.

E ela o beijava, mantendo o sorriso em seu rosto e acariciando o dele, que também sorria constantemente.
Alguém cedia.
Luzes apagadas.
Tentavam vez ou outra fazer com que os beijos não fossem maliciosos e se bastassem em beijos, mas sempre falhavam. Desejavam-se muito, era inevitável.
Consumavam o desejo.

- Boa noite.
- Boa noite.

E ele beijava sua testa.
Após alguns minutos de silêncio, surgiam assuntos aleatórios. Às vezes engraçados, às vezes tristes e às vezes absurdos.
"Como ele pode pensar que um dia vai me perder?" Indagava ela.
"Até quando ela estará comigo? Não quero perdê-la!" Temia ele.

Convenciam-se da recíproca de seus sentimentos e dormiam.
Novo dia.
- Bom dia!
- Bom dia!

Se beijavam antes de seguir seus caminhos.
Ele, pro trabalho.
Ela, pra faculdade.
Mesmo em lugares distintos, ouviam dos outros que percebiam a evidente felicidade estampada em seus rostos "Você são muito diferentes... Uma hora isso acaba. São dois mundos distintos, não há como negar".
Concordavam com os olhares tristes.
Era mesmo verdade.

Mas a noite chegava e os olhares dançavam, fazendo-se pertencentes ao mesmo mundo. O mundo deles.
Sem gritos, murmúrios ou opiniões externas.
Sem problemas, sem obstáculos ou diferenças.
Com olhos brilhantes, corpos entrelaçados e risadas soltas.
Com mimos e agrados, com sorvete e até um mascote.

E riam-se por se encontrarem em completo estado de gozo.
- Eu te amo muito. - Dizia ela, com a voz infantil evidenciando timidez por ver-se tão entregue.
- Eu também te amo, minha princesa. - Dizia ele, com os olhos marejados, por sentir a sinceridade que poucas vezes sentiu na vida ao proferir tais palavras.

E era sempre assim.

E viveram felizes até o último dia em que estiveram juntos.

Minha Nani

Para os irmãos mais velhos que adoravam tirar-lhe sarro, era Dan.
Para os mais chegados, Dani.
Na carteira, Daniela.
Pra mim, Nani.

Minha menina Nani, que me fazia sentir vivo.
Aquela menina que me consumia com uma felicidade insone de quem vive seu primeiro amor no que achava ser o terceiro.
Nani, que me enchia os olhos quando vinha com seu vestido florido, seus brincos grandes, seus cabelos soltos e seus largos lábios com um sorriso já não tão branco assim por conta do fumo, mas ainda assim esplendoroso.
Nani, que arrancava-me o chão com suas despedidas eternas e tão passageiras, e que me devolvia o coração intensamente pulsante quando retornava, com aqueles olhos azuis que me enganavam dizendo que sou louco, e que não havia motivo pra tanto desespero.
Nani, que não entendia como poderia amar tanto assim alguém como ela.
Nani, que não fazia o mínimo esforço para entender ou para tornar-se mais amável, pois tinha plena certeza de meu amor incondicional.
Nani, que me fazia ouvir duras verdades e até mentiras convincentes, que me faziam derramar inúmeras lágrimas...
Nani, que tinha faca e afago na mesma mão: Tirava-me a fisionomia triste e cansada com um simples toque e com suas poucas palavras.
Nani, que gostava de usar azul claro, pra combinar com os olhos, e definia como "azul celeste".

Celeste?
Que céu é esse que ousou copiar a cor dos teus olhos?
Que céu é esse que tem essa cor tão sublime e maravilhosa?
Me leva até ele, Nani, eu imploro!
Me leva até sua casa, me leva até esse céu, me leva aonde você quiser, só não me tire da sua vida, por favor!
Me tira desse lugar de céu cinza e de nuvens carregadas.
Me tira daqui! Quero ver o tal azul do céu, pois já duvido até que ele exista...
Pois por aqui, sem você, o tempo é ruim o tempo todo.