A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

domingo, 15 de maio de 2011

- Que é isso?
- Chocolate.
- Dá um pedaço?
- Tó.
- Você disse que era chocolate...
- E é!
- Não parece.
- Ah, deve estar estranhando porque é meio amargo.
- É meio amargo mesmo... Tem gosto esquisito.
- Não, filho. O nome é chocolate meio amargo.
- Não entendo.
- O que?
- Como o chocolate pode ser amargo.
- Não é amargo. É meio amargo.
- Pra mim, chocolate sempre foi doce. Totalmente doce.
- Mas esse é doce, filho.
- Não é, não! Se é meio amargo, é meio doce. Chocolate tem que ser todo doce.
- Não é bem assim... Veja a mamãe por exemplo: eu te amo, mas as vezes fico irritada com você. Mas nem por isso deixo de amar.
- Hum... Pois quando estou irritado com você eu não te amo, não. Eu te amo muito, mas não toda hora.
- É que você é pequenininho, só tem espaço pra um sentimento de cada vez.
- Mas eu sou maior que o chocolate.
- Mas o chocolate não é gente, João! - disse já se irritando - Pessoas não são como chocolates, usei só um exemplo!
- Eu sei que não são. Até porque se fossem, esse chocolate seria uma pessoa esquisita. Seria metade boa e metade má... Seria má.
- João, o chocolate não é mau.
- Eu sei, ele não é uma pessoa...
O silêncio reinou por um minuto. E quando o assunto parecia ter acabado, o menino retoma:
- Mãe, quem inventou esse chocolate meio amargo ai?
- Não sei, filho, não sei.
- Foi uma criança?
- Provavelmente não.
- Com certeza não. Aposto que foi um adulto. Crianças gostam de tudo explicado: ou é doce ou é amargo. Os adultos que complicam as coisas... Sabia que cansa ter que explicar tudo?
A mãe estava surpresa, não soube o que responder.
- Mas tudo bem, agora você pode me trazer um cholate de criança, por favor?