A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

sábado, 26 de abril de 2014

Eu queria uma namorada.
Idealizei uma moça engraçada, culta, que torcesse pelo mesmo clube de futebol que eu e que tivesse um gosto musical refinado.
Quanto a aparência, pensei numa moça alta, da pela branca, do cabelo preto e liso. Dos lábios cor-de-rosa e dos olhos amendoados e com cílios grandes (estes detalhes sempre me encantaram).

Encontrei uma criatura.
Andava por aí cantarolando a música estranha que ouvia em seu fone sem muito se preocupar se alguém a estava ouvindo. Evidentemente não era sua intenção ser ouvida, mas e se fosse?
Ela bebia às vezes e fumava sempre, e, nas poucas vezes que bebia, se levantava, gesticulava muito e quase que gritava pra conversar com seus amigos, que sempre riam e imitavam. Bem humorada (de um jeito diferente do qual imaginei), respondia-lhes com o dedo do meio e uma risada gostosa.
Dizia que não ligava pra futebol, mas quando assitia a algum jogo do time pelo qual tinha simpatia (que era justamente o maior rival do meu), comportava-se como um confirmado e fanático torcedor: gritava, falava palavrões, dava instruções que os jogadores jamais ouviriam, mas seu sorriso na hora do gol era uma graça.
Gostava muito de ler e se dispunha a ler de tudo, até o que obviamente não gostaria, só pra ter uma opinião definitiva e justa sobre. Lia muito e debatia mais ainda sobre o conhecimento adquirido e sobre a interpretação feita.
Tinha belos cabelos, mas não se preocupava tanto com eles: apenas os lavava e penteava, deixava o resto por conta da vida. E o mesmo acontecia com sua pele morena: deixava-a sempre respirar livremente, livre de cremes e maquiagens. A única coisa com a qual se preocupava em enfeitar era a boca, que estava sempre com um vibrante batom vermelho, ressaltando ainda mais a grandiosidade de seus lábios e a cor branca de seus dentes.
Ela sorria, tinha os olhos grande e brilhantes, e me contava sobre suas ideias loucas e sobre seus sonhos que cada vez tinham um detalhe a mais. Às vezes me vinha triste, cheia de lágrimas nos olhos e sem nenhuma vergonha de tê-las. Achava a vida realmente bela e não via motivos para não ser motivada como era.
Era ambiciosa: tinha muitos desejos, muita vontade, muitas opiniões, muitas causas e aguentava as consequências.

Era uma idealista nata.
Uma romântica inconsequente.
Dona de seu próprio nariz.
Dona de seu próprio corpo.
Criadora de seus interesses.
Realizadora de seus sonhos.
Era uma mulher.

Agora eu tenho uma namorada.