A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Blame it on the alcohol

Se acaso quiseres conversar, saberás aonde me encontrar: provavelmente na porta de um bar. Mas se não for o caso, estarei em minha cobertura de frente pro mar, bebendo whisky e tentando escrever algo que soe poético. Ok, tentativa falha. Terei de resumir minha vida para justificar o fracasso: era jovem, esforçado e inteligente; Tinha muita vontade de vencer, só me faltava oportunidade. E eis que ela surgiu! Fui com muita sede ao pote. Bebi tanto do delicioso gosto do sucesso que acabei por me engasgar. Meu primeiro trabalho foi como cronista num jornal, mas eu sabia que não havia de ficar lá por muito tempo, era realmente talentoso e reconhecia este talento. Depois de alguns poucos meses no tal jornal, fui chamado para um estágio numa emissora de TV relativamente grande. Já se pode imaginar minha reação quando recebi o telefonema, não é? Coração a mil, imaginação fluindo e dentro de mim já não havia mais espaço para expectativas. Finalmente chegou meu primeiro dia de trabalho: Decepção! Foi extamente como algumas séries de TV mostram: era um Zé ninguém, não tinha voz e pelo que parecia também não tinha presença. Só se ouvia meu nome quando precisavam dos favores mais inúteis do mundo. Mas durante o tempo em que não servia cafézinhos, pegava correspondência ou enviava e-mails, ficava observando a sessão de redação. Apesar de querer trabalhar no ramo, não fazia ideia de o quão complicado era aquilo. Depois que vi o esforço que a produção tinha para por programas, muitas vezes curtos, no ar, comecei a admirar aquela gente apressada e a almejar ser que nem eles. Dia desses, entre um set e outro, não pude deixar de ouvir (ok, eu quis ouvir) a conversa de dois produtores. Eles pretendiam apresentar ao presidente da emissora um novo programa, a principio quinzenal, só faltava um bom enredo e desenvolvê-lo. Mas não era tão simples quanto parecia. Tinha de ser algo novo e bom. Não que os tais produtores não fossem bons ou criativos, é que já não se tinha mais o que criar mesmo. Em momento algum me senti superior, aliás, longe de mim! Mas pensei comigo mesmo "estou na hora certa no lugar certo ou algo do tipo". Cheguei em casa, virei a noite e tentei escrever algo que prestasse. Resolvi escrever sobre uma família problemática e de certa forma engraçada. Ao meu ver, ficou bom. Não digo excelente ou digno de um prêmio, pois ainda havia de ser editado por profissionais. Ok, projeto pronto, só faltava apresentar aos produtores para eles levarema à presidência. Na verdade, além disso, me faltava coragem. continua.