A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Com os olhos aparentemente maiores por conta das alegres lágrimas que estes excretavam, eu o vi.
Ali, parado, voltando o olhar para mim de vez em quando com certa insegurança, porém sempre com um sutil sorriso. Estes olhos cansados, diminuíam, então, por conta do largo e regozijante riso que se abria nos lábios, sem receio ou censura. Os pés buscavam o encontro incansavelmente, mesmo que com a mente relutante quanto a isso.

Desobedeceram e foram.

Estes lábios, já vermelhos de tanto serem mordiscados por evidente nervosismo, ensaiavam inutilmente palavras coerentes ou ao menos coesas, mas se limitavam aos cumprimentos clichês. Aqueles olhos serenos invadiram os meus, e o pensamento superlotado de possibilidades, de repente viu-se branco. Não por falta ou esquecimento de auto-indagações, mas pela estranha despreocupação que inundara a habitual confusão.
Dei-lhe um longo e suave beijo. A cabeça pareceu rodar um pouco, e senti a pressão quase que descer, mas não hesitei em beijar-lhe outra vez, mas agora branda e decididamente.
Minhas mãos percorriam e acariciavam seus firmes braços, e estes percorriam minha cintura e encaminhavam-se para os glúteos. Retirei aquela mão tecnicamente inconveniente e sorri com certa malícia entre os beijos, mordiscando levemente o lado direito do lábio inferior.

Provoquei-o, confesso.
Ele gostou, eu sei.

Enquanto o pescoço se alongava, os olhos fechavam e abriam involuntariamente e a boca tentava sussurrar gemidos o mais baixo possível, sentia a cabeça girar, o gosto amargo às vezes parecia voltar e a pele esfriava, mas isto se via de longe por conta do arrepio pelo corpo.
Entre tantas negações, as poucas permissões enlouqueciam.

Extasiavam.
Ardiam.
Queimavam.
Mas queimavam tanto
Que precisamos acender outro pra dormir.