A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

sábado, 22 de outubro de 2011

Não esqueci. Foi o primeiro, não tinha como esquecer.
Sei lá, era um sorriso que me invadia e ao mesmo tempo pedia permissão pra entrar... Cavalheiro até nisso. Todo dia em que nos víamos, chegava em casa, tomava banho sorrindo e cantarolando e depois deitava em minha cama com meu diário e, com o mesmo sorriso do banho, começava a escrever. Ficava ali por horas. As vezes não escrevia nem duas linhas, mas só de lembrar cada detalhe de seu rosto, de seu corpo... Ah, eu sorria. E tinha razão para tal.
O cabelo não recebia os cuidados que deviam, mas ainda assim era uma delícia puxa-los por baixo, bem junto a nuca. Ah, e o sorriso... É, voltei a falar disso. É que só eu sei o quão encantador ele era. Era quase que um convite para dançar agarradinho no baile de formatura. Os braços eram fortes na medida, as costas largas, lisas e, na época, um pouco arranhadas por mim. Hoje em dia não sei mais.
Tô feliz. Ele também está. Encontrou alguém que o ama. Não sei se tanto quanto eu, mas tenho certeza que ama. Impossível não amar. Só me dói pensar que aquele olhar convidativo agora é de outra, que as carícias, os gritos e os sussurros não são mais pra mim...
Lembrei disso tudo porque nos esbarramos hoje na rua. Lembrei não, resolvi contar.
"Tô bem, e você?
Poxa, que bom, fico feliz.
É, maior tempão mesmo...
Vamos marcar alguma coisa qualquer dia desses!
hahaha combinado!
Beijos!"
Isso foi o bastante pra eu me recordar perfeitamente de cada toque, de cada cheiro, de cada gesto, de cada palavra, de cada sorriso... Sorriso esse que não vejo no espelho desde o ultimo adeus.

Mas eu juro que tô bem.