A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Não nascera para o amor, concluiu aquele dia no quintal.

Enquanto desfrutava dos tragos finais de seu cigarro e almejava um gole de refrigerante, limpou os olhos marejados e respirou fundo.

Era isto: não nascera para o amor.
Não por falta dele. Não por não amar. Não por não ser amada.
É que o amor que não é recíproco não merece ser amado, e parecia-lhe que quanto mais amava seu desamor e via-o amando um outro amor, o sentimento empedrava dentro de si, tornando-lhe firme e quase imóvel.

Quase.

Mas os olhos se mexiam, como sempre, a procura de qualquer notícia, e em toda notícia, buscavam quase que incansavelmente um sinal. 

Quase.

Cansaram. 
Estes olhos exaustos do que veem já não são vistos chorando. Estes, toda noite, cerram-se antes de adormecer numa prece sufocada, implorando para o esquecer.

Mas demora a perceber que o amor da vida do amor da sua vida pode não ser você. 
E é difícil perceber e não arrefecer.
Agora os olhos são opacos.

E agora, que os olhos são opacos, como é que fica?
Será que existe ternura, embora tenha ido todo o brilho, ou aquele olhar está tão vazio quanto baixo?

Não sei mais o que faço.

É tão triste ver uma mulher perdendo seu brilho. É quase como uma estrela caindo.

Será que deixa vítimas nos arredores?