A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ah, minha pequena, não sabes como odeio ver-te grande assim...
É de partir o coração vê-la driblando tantos amores entre um trago e outro. Bate saudade da tua pureza.

É triste ouvir sempre e somente a tua voz firme e séria, mesmo que numa roda de amigos. Bate saudade da voz infantil ao me acordar.

É lamentavel saber que adequou-se a um grupo teoricamente plural, mas que não passa de uma singuralidade. Bate saudade da tua estranha originalidade.

Terrível ver que os teus olhos continuam a brilhar apenas por estarem marejados, e não pela simples e descompromissada felicidade que transpareciam. Bate saudade daquela criança.

Penoso ter de vê-la tão linda, tão leve e tão livre dançando e sorrindo entre os braços desses pobres rapazes que podem jurar que a conquistam. Bate saudade da falta de ritmo e da sobra de compatibilidade.

Vergonhoso é ainda sentir-me mal a cada sorriso em direção a um olhar que não o meu, cada cheiro na nuca, cada puxada de cabelo e cada beijo noutro lábio. Bate arrependimento pelo ódio que me bateu e acabou batendo em ti.

Acabei.

Acabou.

Acho que o que dói mais é saber que consegues ainda ser feliz, apesar da tristeza, enquanto eu... Bate saudade do aprendizado particular de felicidade.



Em estado alcoólico elevado, chorei no ombro de um amigo. No balcão de um bar, na frente de todo mundo.
Com o rosto vermelho, fungando e com ânsia de vômito a cada tossida, o soluço daquela tristeza sincera ecoava pelo botequim.
"Ora, vai passar", dizia ele. Eu só conseguia pensar que o choro (aquele choro) passaria, mas a tristeza que vinha me acompanhando há quase um ano, não, mas como poderia explicar-lhe isso se mal conseguia respirar durante o processo de desidratação?

Depois de muitas lágrimas no balcão e do bar-man muito se incomodar, fui me recompondo.
- Está melhor?
- Acho que sim.
- Toma, bebe essa água...  Olha, ainda bem que você parou! Todos já estavam olhando!
- Ora, é da conta deles?
- Não, mas é estranho.
- Deixa ser!
- Tá certo...  Mas sabe uma coisa que não entendo? O porquê de vocês não se falarem.
- Como assim "não entende"? Tá brincando?
- Ah é, eu tinha esquecido... Agora a dúvida é outra.
- Diz.
- Por que você  ainda sofre por uma pessoa dessas? Uma pessoa que você não devia nunca nem ter amado...
- É, eu sei que é complicado, mas, se fosse com você, você também amaria.
- Pois eu duvido!
- Então duvide! Só não pague pra ver; te partiria o coração também.
- Não se preocupe, não pretendo sair do campo da dúvida. Não tenho essa curiosidade nem esse espírito aventureiro que você tem.
- HA-HA. Pode zombar mesmo. Mas você só não entende a minha dor porque seus amores nunca doeram!
- Claro que já! Você sabe que já!
- Então ainda doem.
- Não, porque, como já disse, tudo passa.
- Não, então não era amor.
- Claro que era! O que você sabe disso?! Amor também acaba. Tudo acaba. É triste, eu sei, mas veja pelo lado bom: A tristeza faz parte desse infinito grupo de coisas que acabam!
- Não! - Levantei-me.
- Você tá nessa e ainda se dá o luxo de acreditar em amor eterno? Sendo que nem é um bom amor. Sendo que nem se pode mais amar. Sendo que deixou de ser por um momento de ódio. Faça-me o favor...
- Faça-me você e me deixe pelo menos sonhar. Se eu não posso mais viver esse amor, ou amá-lo enquanto amante, deixe que sobrevivam as lembranças tão amorosas e amáveis que só não te mostro ou as retrato para não dividir, nem por um segundo sequer, o amor que eu guardei tão cuidadosamente dentro de mim, no canto mais escondido, no canto que mais tenho acesso.
- Isso é pedir pra sofrer. Assim, você não se permitirá um novo amor... E você tem o direito de ser uma pessoa amada de novo, e também de amar.
- Eu sei disso. Tenho outros amores, nunca deixei de ter, nem enquanto havia o amor eterno que teve fim, mas esses não são amores. São amores e ponto. Esse amor de que falo, é amor vírgula e amor de novo.
- Ai ai... Você não tem jeito mesmo. Desisto.
- Ótimo. Agradeço a atenção, mas não me venha com esse papo de que vai passar, porque eu não quero que passe e não vou deixar passar.

Fica o aviso.
Não vai passar.