A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 24 de março de 2014

A primeira mentira

Pra falar a verdade, naquele dia dezenove eu jurei que não passaria por nenhuma situação mais estranha: Ver-te e ter de te cumprimentar cordialmente com os clássicos dois beijinhos no rosto e um torturante meio-abraço.
Sentir teu cheiro amadeirado misturado com o habitual odor de álcool e não cheirar o teu cangote com os olhos ternos e fechados foi quase que inevitável. Sorte que soube ser equilibrada.
Pelo menos aquela hora.

Ao longo da noite, nossos olhares se cruzaram centenas de vezes. Milhares, eu diria.
Milhares, eu queria. Queria, mas não era o que eu dizia.
E a cada tentativa solene de aproximação, agia bruscamente, forçando assim um afastamento um tanto quando indesejável. Pelas duas partes, apesar das aparências.

E a cada afastamento forçado, apertava ainda mais a vontade de um abraço apertado. Novamente, por ambas as partes.

- Sai daqui, acabou.
- Você não entende que eu não consigo te ver e ficar longe? Eu te amo e só quero estar com você.
- Mas eu não. Sai, por favor. Chega!

E chegou.
Saiu.
E até hoje não consigo me lembrar de quando foi o ultimo melhor beijo recebi. E até hoje me arrependo por não ter te beijado naquele dia dezenove.

E agora, às quatro e meia da manhã, sofro em silêncio e solitariamente, sem uma lágrima sequer, porque nunca mais ouvirei palavra alguma de amor da tua boca.
Sorrio de canto ao pensar que certamente estou numa pequena parte do teu quase que inexistente e frágil coração, que só eu sei que existe.
Apesar do sorriso automático que vem junto com tal certeza e o os olhos brilhantes que vem junto com toda lembrança dos nosso sorrisos infinitos que duravam até as melhores brigas do mundo e que terminavam com bom sexo (digno de aplausos, aliás), a tristeza volta. Sempre volta.
E ao pegar-me imersa em dúvidas, arrependimentos e bastante relutante, eu, covardemente, escrevo. Poderia dizer-te tudo isso, mas será que deveria?

Não.
Certamente não.
Quem deve é você.
Deve um pedido de desculpas. Um só. E não pra mim.

E sabe, talvez eu não seja tão covarde assim por não falar diretamente a ti.
Um dia lerá. Sei que sim.
E espero receber um telefonema neste dia. Ou uma mensagem, caso se acovarde um pouco.
Sei lá, só queria ouvir algo diferente do que da ultima vez, aquela na qual você apontava o dedo indicador contra o meu rosto.

Porque eu não esqueci.
Mas já não dói.


Pelo menos não tanto quanto essa maldita saudade.