A culpada

Minha foto
Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Só o ruivo me entende

Estranho.

Vejo-te sorrindo e penso que somos completos estranhos e acabamos de nos conhecer. E é assim toda vez. Parece sempre que somos estranhos que mal se viram e já se interessaram um pelo outro. Iniciamos as conversas sempre com um abraço firme, um sorriso largo e aquela timidez especial evidenciada pelo sorriso que fica fixo por pelo menos cinco minutos.
Com o tempo, o assunto flui e vamos nos sentindo confortáveis. Aí começam os assuntos bobos, as implicâncias e o contato visual concentrado.

Estranho.

Olho no olho e os olhos brilhando.
Brilhando de felicidade, até que eu te conto as minhas mágoas e você as suas, e então eles se entristecem e desejam fortemente que a tristeza esteja apenas nos meus olhos e não nos teus pequenos e belos olhos que deviam sempre sorrir, porque fazem isso muito bem.
É aí que voltamos aos bons assuntos, e os usamos como transição pra falar no assunto que mais nos interessa: Nós.

Estranho.

Temos desde sempre a mania de querer saber se estamos bem, a terrível e bela mania de se importar demais um com o outro.
Temos nossas vidas, distintas, mas a cada encontro, parece que as outras vidas ficam pra trás e pertencemos um ao outro, não por termos feito promessas ou juras, porque nunca fizemos e nunca quisemos, mas porque tudo realmente parece bem menor.
Já tivemos e ainda temos outros amores e outras paixões, sabemos disso. Mas quem é que lembra quando estamos abraçados sentindo o cheiro um do outro? Eu não lembro.

Estranho.

Porque eu posso passar meses ou dias sem você. Com saudade, mas sem desespero. Mas só de te ver eu já não entendo como pude ficar tanto tempo distante e só desejo que o mundo pare para que possamos dançar abraçados naquele eterno segundo que é nosso, evidentemente nosso.
Evidente por nossos olhares que se cruzam e sorriem antes e depois do longo beijo. Evidente pelo arrepio que sinto quando você me puxa pela cintura. Evidente pelos olhos fechados enquanto nos balançamos. Evidente pelos olhares distintos do público em nossa direção. Alguns sorriem, outros nem tanto. Mas quem liga pros outros? Eles jamais entenderão...

Estranho.

Porque nem eles e nem nós entenderemos a loucura de nossos momentos. Jamais seremos capazes de compreender a força que nos rodeia quando damos as mãos, mas sabemos que ela existe justamente por não querermos nos separar a cada reencontro.
Mas caímos sempre na bobeira de tentar entender...
Entender pra quê? Entender como?
A gente sabe o que é, só não entende. É forte demais. Tão forte que eu até estranho...

Ai, como esse amor maravilhosamente estranho me faz suspirar!
Estranho?
Talvez não... Nando Reis diria outra coisa.