A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Em estado alcoólico elevado, chorei no ombro de um amigo. No balcão de um bar, na frente de todo mundo.
Com o rosto vermelho, fungando e com ânsia de vômito a cada tossida, o soluço daquela tristeza sincera ecoava pelo botequim.
"Ora, vai passar", dizia ele. Eu só conseguia pensar que o choro (aquele choro) passaria, mas a tristeza que vinha me acompanhando há quase um ano, não, mas como poderia explicar-lhe isso se mal conseguia respirar durante o processo de desidratação?

Depois de muitas lágrimas no balcão e do bar-man muito se incomodar, fui me recompondo.
- Está melhor?
- Acho que sim.
- Toma, bebe essa água...  Olha, ainda bem que você parou! Todos já estavam olhando!
- Ora, é da conta deles?
- Não, mas é estranho.
- Deixa ser!
- Tá certo...  Mas sabe uma coisa que não entendo? O porquê de vocês não se falarem.
- Como assim "não entende"? Tá brincando?
- Ah é, eu tinha esquecido... Agora a dúvida é outra.
- Diz.
- Por que você  ainda sofre por uma pessoa dessas? Uma pessoa que você não devia nunca nem ter amado...
- É, eu sei que é complicado, mas, se fosse com você, você também amaria.
- Pois eu duvido!
- Então duvide! Só não pague pra ver; te partiria o coração também.
- Não se preocupe, não pretendo sair do campo da dúvida. Não tenho essa curiosidade nem esse espírito aventureiro que você tem.
- HA-HA. Pode zombar mesmo. Mas você só não entende a minha dor porque seus amores nunca doeram!
- Claro que já! Você sabe que já!
- Então ainda doem.
- Não, porque, como já disse, tudo passa.
- Não, então não era amor.
- Claro que era! O que você sabe disso?! Amor também acaba. Tudo acaba. É triste, eu sei, mas veja pelo lado bom: A tristeza faz parte desse infinito grupo de coisas que acabam!
- Não! - Levantei-me.
- Você tá nessa e ainda se dá o luxo de acreditar em amor eterno? Sendo que nem é um bom amor. Sendo que nem se pode mais amar. Sendo que deixou de ser por um momento de ódio. Faça-me o favor...
- Faça-me você e me deixe pelo menos sonhar. Se eu não posso mais viver esse amor, ou amá-lo enquanto amante, deixe que sobrevivam as lembranças tão amorosas e amáveis que só não te mostro ou as retrato para não dividir, nem por um segundo sequer, o amor que eu guardei tão cuidadosamente dentro de mim, no canto mais escondido, no canto que mais tenho acesso.
- Isso é pedir pra sofrer. Assim, você não se permitirá um novo amor... E você tem o direito de ser uma pessoa amada de novo, e também de amar.
- Eu sei disso. Tenho outros amores, nunca deixei de ter, nem enquanto havia o amor eterno que teve fim, mas esses não são amores. São amores e ponto. Esse amor de que falo, é amor vírgula e amor de novo.
- Ai ai... Você não tem jeito mesmo. Desisto.
- Ótimo. Agradeço a atenção, mas não me venha com esse papo de que vai passar, porque eu não quero que passe e não vou deixar passar.

Fica o aviso.
Não vai passar.

Um comentário:

Anônimo disse...

doidera.
.,