Dizem que hoje ela acorda cedo, cuida da casa, do filho e do marido.
Não se atrasa pro trabalho um dia sequer e nem pra deixar o pequeno na creche, e manda dinheiro todo mês pra sua mãe, que mora longe.
Anda impecável: Salto médio, meia-calça, cara pintada, cabelo escovado e corpo diariamente malhado.
Chega em casa cansada, com dor nos pés, faz um rango de dar água na boca, deita-se com seu homem e, por fim, dorme.
Dizem que leva vida de Maria.
Mas a Mariana que eu conheci levava vida de Ana.
Completamente louca e enlouquecedora.
Nunca foi boa com escolhas e nunca precisou, até então, escolher: tinha diversos homens aos seus pés e conseguia aproveitar o melhor de cada um deles, inclusive do que vos fala.
Só pensava em dançar, se divertir, dar risada e arrancar suspiros de quem estivesse por perto, com seu jeito alegre, sedutor e entusiasmado; Ela tinha muito projetos e sonhos e, acima de tudo, capacidade de sobra para por tudo em prática. Mas a preguiça conseguia ser maior.
Andava por aí de coque no cabelo, unha roída, cara lavada e um sorriso largo e sobressalente em seu rosto moreno. Falava grosso, com firmeza, intimidava muito marmanjo, mas tinha o coração mole que só vendo.
Fumava. Parava por alguns meses. Fumava mais que antes e parava de novo. Acho na verdade que ela nem gostava do fumo, mas tinha ciência do quanto ficava linda segurando um cigarro.
Ria por tudo, ria de tudo: Ria de suas alegrias, de seus problemas, de sua vida, dos outros e ria na cara dos outros. Nunca foi de fazer média com ninguém: Se gostava, tentava demonstrar; Se não gostava, demonstrava involuntariamente.
Andava sempre atraindo olhares e sendo atraída e traída pela vida.
Hoje já nem nos falamos.
Diria que não sei nem se ela ainda se lembra de mim, mas certamente lembra.
Não é possível que tenha perdido tudo que tinha de "Ana".
Joguei fora as cartas, os bilhetes, as fotos e o número de seu telefone.
Da Mariana, em minha vida, só resta a saudade.
E na vida dela, "Maria".
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