Por quantas noites mais terei de abraçá-la, enxugar suas lágrimas, consolá-la, aconselhá-la e depois vê-la partir pela manhã rumo aos mesmo erros?
Quantas horas mais gastarei ao telefone ao longo do dia ouvindo seus murmúrios, suas queixas e seus problemas sempre tão iguais?
Até quando terei de lidar com seu descompromissado e despercebido egoísmo? Até quando?!
Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? Quando falo assim, o egoísta passa a ser eu.
E também é por isso que escrevo. Como poderia dizer isso à Camila quando ela me vem com aqueles amendoados olhos castanhos cheios d'água e a pele alva avermelhada de tanto tentar sessar o choro?
Como poderia dizer qualquer dessas palavras quando ela me liga com a voz trêmula e pergunta se eu tô podendo falar? E como eu poderia dizer que não?
Como poderia dizer qualquer dessas palavras quando ela me liga com a voz trêmula e pergunta se eu tô podendo falar? E como eu poderia dizer que não?
Será que Camila não percebe o que ela faz? Será que ela realmente não sabe que sua dor acaba tornando-se minha?
Que ódio! Que ódio!
Se ela não sabe, que ódio da sua ingenuidade em não saber o quanto a amo e o quanto dependo de sua felicidade para ser feliz.
E se ela sabe... Que ódio dessa teimosia em insistir nesses erros cada dia mais óbvios e escancarados.
Como uma pessoa pode ser tão boa como Camila?
Quero dizer, se ela realmente souber o que faz, como diz que sabe, ela é, certamente uma das melhores pessoas que hei de conhecer.
Mas se não sabe e fala apenas para esquivar-se da culpa e do julgamento, como pode ser tão boba? Evito o termo, mas acaba se tornando inevitável neste caso: Como pode ser tão burra?
Outra coisa que eu não entendo é como consigo sentir tanto ódio da pessoa que eu mais amo. E não entendo também como posso amar tanto alguém assim.
Sabe, Camila é ótima!
Camila é fã de teatro e cinema, conhece diretores, atores e essas bandas bacanas de cidades com nomes difíceis de pronunciar, ama animais e fica extremamente retardada e adorável quando vê filhotes. Ama crianças e já tem nomes planejados para os três filhos que pretende ter, é inexplicavelmente esperta, astuta e inteligente, argumenta como ninguém, tem uma relação maravilhosa com a família e com o resto do mundo. Raramente ouvi falar de alguém que tivesse algo contra Camila o tentasse fazer mal a ela.
Mas o que me irrita é que ela é sentimentalmente imbecil. A palavra é essa. O seu histórico amoroso é pavoroso.
A cada namorado que apresenta à família, sua mãe já começa a temer o pior. E não é pra menos.
Enquanto isso, cá estou: Sofrendo pelo sofrimento de minha amada.
Amada, aliás, ciente de que é amada por mim.
Amada que não ama, só pensa amar.
Mas um dia ela saberá que a proporção de sofrimento não term haver com amor.
Um dia ela vai decidir ser feliz. Tenho plena certeza disso. Ela merece decidir isso.
E aí, quando Camila resolver olhar pro lado, será plenamente feliz.
Juro pela minha felicidade, por mais redundante que isso possa ser, se é que me entende.
Agora vou-me. O telefone tá tocando.
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