A culpada

Minha foto
Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Desabafo de um homem que antigamente era "das antigas".

Lembro-me perfeitamente de um dos dias mais frustrantes da minha vida.
Após muito tempo, fui a uma locadora para alugar um filme - que agora me foge à memória. Chegando lá, meu mundo caiu.
Perguntei à atendente e ela disse que tinha, sim, o filme que eu queria, mas só em DVD, não em VHS. Tudo bem, as coisas mudam. Perguntei então onde era a seção de VHS, para que pudesse escolher alguma outra película e para que minha ida não tivesse sido em vão.
A moça, muito solícita, me acompanhou até lá.
Não havia nem 100 filmes naquela prateleira. O resto da locadora era composto apenas por DVDs. 
Ninguém mais queria saber daquela fita grossa, enorme, que se tem que rebobinar antes de devolver para a locadora.
A moda agora era aquela rosquinha fina, miúda, que não passava segurança alguma. 
Comentei acerca com meu filho e ele disse que era muito mais prático e que me daria um aparelho de DVD no natal. Sinceramente, ignorei-o. Poderia passar a vida vendo apenas meus VHS antigos, sem precisar dos lançamentos que cabem naquela coisa minúscula metida a besta.

Isso foi em 2006, se não me engano. 
Pois é, passaram-se 7 anos desde então... Hoje rio. Que bobagem a minha!
Logo eu, que não troco a alta definição do meu Blue-ray por nada.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O que eu odeio

Eu adoro te ver de cima. Quer dizer, adoro te ver do ponto de vista de cima. Sei lá, eu simplesmente gosto.
Seus cílios ficam mais grossos e curvados, seu nariz parece mais fino e quando olha pra mim, seus olhos parecem duas enormes jabuticabas.
Eu adoro jabuticabas.

Eu adoro te ver de baixo. Seus lábios parecem menores e um pouco mais grossos, suas narinas mais fechadas, seu queixo menor e mais redondinho e seus cílios ficam mais longos, parecem um pincel.
Eu adoro pintar.

Eu adoro te ver de costas. Gosto de ver seus cabelos balançando enquanto você anda e gosto de acompanhar o crescimento deles (aliás, está na hora de dar uma aparada), gosto de ver suas lindas pernas em movimento, seu bumbum redondo, seus braços balançando e seu quadril mexendo enquanto você anda  como quem não liga pra nada.
Eu adoro o desleixe.

Eu detesto te ver de frente. Seus cílios são um pouco separados e curvados até demais, seu nariz é um pouco grande, seus olhos são redondos demais, seus lábios são finos e longos, sei lá, e seu queixo é um pouco grande.
Mas aí eu lembro do quanto eu adoro jabuticabas, pintura e até o teu desleixe. E então o teu desleixe se torna meu, e nada mais importa.


É tudo questão de relação. Da relação.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Perspectiva

Outro dia eu me peguei pensando em você. Nos planos que fazíamos, nas promessas que jamais cumpriremos por conta do destino e nas promessas que fizemos com a consciência de que nunca se cumpririam.
É até engraçado dizer isso. Ri de mim mesma agora, confesso. Mas é a verdade. Nos iludíamos, sim. E sabíamos disso, não eramos ingênuos a esse ponto... Muito pelo contrário: Para sustentar uma ilusão, criávamos outra, e assim ia, até que foi.
Foi embora, não volta mais.
As ilusões ficam como lembranças e até como piadas, por mais triste que isso possa parecer.
É triste agora, mas antes era bom... E talvez ainda fosse... Quem sabe?

Todos sabem que não, a verdade é essa.


Tentei, mas as minhas ilusões não mais funcionam com você. Acho que foi, mesmo.

Foi...


Será?

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Sinestesia.

Disse um adeus calado, enxugou as lágrimas que nem saíram do rosto, virou-se, bateu a porta e, ainda de costas, apoiou-se nela.
Deslizou até o chão com os olhos cheios d'água e ali ficou por um bom tempo, sentindo o cheiro cinza do inverno interior.
Não fazia movimentos bruscos, não mudava a expressão e lágrima alguma caia enquanto pensava nas palavras negras e frias que poderia ter dito. Apenas fechava os olhos com força para ver se a agonia passava e alguma lágrima escorria por seu rosto.
Nada.

Após certo tempo sentada apoiada na porta, levantou-se. A vida tinha de seguir.
A fome bateu.
E foi com o cheiro quente do café que lembrou-se do ocorrido, e só então deu-se conta de que não estava triste. Estava com raiva.
Não ficou decepcionada, magoada, desesperada ou qualquer coisa do tipo. Apenas sentiu raiva.



Tem coisa mais triste?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O motivo e a razão

- Estou triste.
- Triste como?
- Não sei.
- Triste por que?
- Não sei.
- E como sabe que está triste?
- Porque estou.
- Não entendi.
- É como seu pegasse um grande amontoado de areia com as duas mãos e conseguisse segurar perfeitamente, até que, repentinamente, os grãos começam a escorrer por entre os dedos, até que tudo se vai e apenas posso lamentar, porque jamais conseguiria pegar todos - todos - aqueles grãos de novo.
- Entendo... Mas se você parar para pensar, sempre vai sobrar pelo menos um ou dois ou cinco ou dez grãos em suas mãos. A areia é fina. A menos que você a retire, ela não sai completamente.

- Você tem razão!



- Não, você é que tem emoção demais.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Noite de sábado

Por que a gente não aluga um filme?
Podemos comprar algumas besteiras pra comer, se quiser. E você escolhe o filme. Pode até ser desenho ou comédia romântica.
Depois, a gente pode pedir uma pizza, sei lá. E jogar algum jogo.
E então a gente se deita. Começamos com um beijo. Uns, na verdade. Tudo bem, muitos, por mim. E depois... Bem, depois você sabe...
E depois do depois, podemos pensar no depois. Nos filhos que poderemos ter, nos possíveis nomes deles. Falo no plural porque quero pelo menos três! Mas se não quiser, tudo bem, poderemos ter só dois, ou um... Mas que sejam nossos! E se for menino, vai ter que ter o nome do meu avô! A não ser que não queira, claro.
E então discutiremos em que lugar compraremos a nossa casa de praia que iremos aos feriados e nas nossas férias... Você gosta de Angra dos Reis, não é? Pode ser lá, eu gosto também!
E enfim a gente dorme e eu te acordo com muitos beijos e te achando linda, mesmo com o rosto todo amassado.
E aí, topa?


- Mas podemos fazer um fondue?

sábado, 17 de novembro de 2012