A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Queria chorar uma lágrima sequer pelo último amor.
Sinto raiva deste ser frio e apático que não retém sensibilidade sequer para sentir saudades.
Abomino essa pessoa que tem de fazer um leve esforço mental para lembrar de quem já amou.
Repudio essa falta de ira, ciúme e até mesmo dor, desse ser tão emocionalmente decidido.

Invejo o antigo ser que costumava ser. Aquele ser que chorava de tristeza, alegria, raiva e nervosismo.
Aquele ser que conseguia ser alegre mesmo tenso, alegre mesmo triste.
Aquele ser que amava até a última gota todo dia, e repunha o barril a cada amanhecer.
Aquele ser que sofria intensamente com saudade por um dia separado de seu bem. Sim, um mísero dia sem o amor era um dia apenas pra sentir saudades e chorar. E só não era um dia perdido porque se sabia que o reencontro haveria de curar a dor.
Saudade daquele ser que fazia questão de brigar, e demonstrava emoções com suas palavras articuladas, as sobrancelhas levantadas, os olhos marejados e as mãos em constante movimento.

Hoje, o ser só chora por dois minutos, no máximo. 
E é nesses dois minutos, que esse ser mais ri.
Ri por se pegar daquele jeito, chorando pelo costumeiro motivo de sempre.
Ri por sentir-se patético e pequeno diante das circunstâncias que a vida impõe.
Ri com a esperança e com a vontade de reverter isso, por saber que é possível, sim.
Ri reclinando e ironizando a si mesmo, ao perceber o quão ridículo é planejar, solitariamente, uma solução para dois.

Ri da vida.
Da sua vida.
Solitária. Triste. Saudosa.
Ri das lágrimas que caem.
Porque só assim se sente vivo.