A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

quinta-feira, 1 de março de 2012

- Você vai querer ser enterrado ou cremado?
- O que?
- Quando você morrer, oras.
- Sei lá. Por que isso agora?
- Não sei... Estava pensando sobre a morte... Eu acho que quero que me enterrem.
- Por que?
- Porque eu tenho medo de fogo.
- Mas você vai estar morto.
- Vai saber, né?
- Como assim?
- Sei lá, vai que eu tô vivo mas pensam que tô morto...
- Ah, claro...
- Ué, é possível. Se bem que eu sou claustrofóbico... E se me enterrarem vivo?
- Pelo amor de Deus, para de imaginar essas coisas loucas e muda de assunto.
- Mudar de assunto por que? Você tem medo de morrer?
- Não... Não exatamente.
- "Não exatamente"? Como assim?
- Não tenho medo da forma que vou morrer. Não pretendo morrer dormindo, como a maioria das pessoas.
- Ainda não entendi...
- Não me importa se vou sentir dor ou não, entende? Não tenho medo do sofrimento antes da morte. Depois vou esquecer, não vou lembrar, não vou ter traumas ou sequelas, então não ligo pra isso.
- Então do que você tem medo?
- Não sei... Como será o paraíso?
- Provavelmente é bom, ué.
- E o inferno?
- Prefiro nem imaginar...
- E se eu for pra lá?
- Você merece ir pra lá?
- Acho que a questão é não merecer ir pro paraíso, não?
- Não. O inferno também é questão de merecimento.

Silêncio...

- E se não merecer nenhum dos dois?
- Aí eu acho que você continua vivo até merecer.