A culpada

Minha foto
Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A minha amiga Camila

Estou escrevendo por puro cansaço. Cansaço da vida, dos problemas e, principalmente, cansaço da Camila. É, estou farto dela.
Por quantas noites mais terei de abraçá-la, enxugar suas lágrimas, consolá-la, aconselhá-la e depois vê-la partir pela manhã rumo aos mesmo erros?
Quantas horas mais gastarei ao telefone ao longo do dia ouvindo seus murmúrios, suas queixas e seus problemas sempre tão iguais?
Até quando terei de lidar com seu descompromissado e despercebido egoísmo? Até quando?!

Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? Quando falo assim, o egoísta passa a ser eu. 
E também é por isso que escrevo. Como poderia dizer isso à Camila quando ela me vem com aqueles amendoados olhos castanhos cheios d'água e a pele alva avermelhada de tanto tentar sessar o choro?
Como poderia dizer qualquer dessas palavras quando ela me liga com a voz trêmula e pergunta se eu tô podendo falar? E como eu poderia dizer que não?

Será que Camila não percebe o que ela faz? Será que ela realmente não sabe que sua dor acaba tornando-se minha?
Que ódio! Que ódio!
Se ela não sabe, que ódio da sua ingenuidade em não saber o quanto a amo e o quanto dependo de sua felicidade para ser feliz.
E se ela sabe... Que ódio dessa teimosia em insistir nesses erros cada dia mais óbvios e escancarados. 

Como uma pessoa pode ser tão boa como Camila?
Quero dizer, se ela realmente souber o que faz, como diz que sabe, ela é, certamente uma das melhores pessoas que hei de conhecer.
Mas se não sabe e fala apenas para esquivar-se da culpa e do julgamento, como pode ser tão boba? Evito o termo, mas acaba se tornando inevitável neste caso: Como pode ser tão burra?

Outra coisa que eu não entendo é como consigo sentir tanto ódio da pessoa que eu mais amo. E não entendo também como posso amar tanto alguém assim.
Sabe, Camila é ótima!
Camila é fã de teatro e cinema, conhece diretores, atores e essas bandas bacanas de cidades com nomes difíceis de pronunciar, ama animais e fica extremamente retardada e adorável quando vê filhotes. Ama crianças e já tem nomes planejados para os três filhos que pretende ter, é inexplicavelmente esperta, astuta e inteligente, argumenta como ninguém, tem uma relação maravilhosa com a família e com o resto do mundo. Raramente ouvi falar de alguém que tivesse algo contra Camila o tentasse fazer mal a ela. 

Mas o que me irrita é que ela é sentimentalmente imbecil. A palavra é essa. O seu histórico amoroso é pavoroso.
A cada namorado que apresenta à família, sua mãe já começa a temer o pior. E não é pra menos.

Enquanto isso, cá estou: Sofrendo pelo sofrimento de minha amada.
Amada, aliás, ciente de que é amada por mim.
Amada que não ama, só pensa amar.

Mas um dia ela saberá que a proporção de sofrimento não term haver com amor.
Um dia ela vai decidir ser feliz. Tenho plena certeza disso. Ela merece decidir isso.

E aí, quando Camila resolver olhar pro lado, será plenamente feliz.
Juro pela minha felicidade, por mais redundante que isso possa ser, se é que me entende.

Agora vou-me. O telefone tá tocando.

Coleção.

De ti, guardo apenas algumas fotografias, tua caneca favorita, o cheiro nas cobertas, a saudade desenfreada e o ciúme costumeiro.
Que péssimo costume o meu. Péssimo de fato, pois cada vez que vejo-te com outro rapaz, meus olhos enchem d'água. E cada vez que penso que esses tais rapazes recebem os teus beijos meus, as lágrimas tomam outra conotação.
Como tudo mudou tão rápido? Como tudo ainda muda tão rápido em sua vida? Por que tens de ser tão volúvel?
Às vezes penso que o errado sou eu, compreende? Penso que não tenho capacidade de acompanhar mudanças bruscas e que não sou adepto a elas, quando o natural seria ser como você. Mas de tanto ouvir dos meus amigos que você é maluca, tomei isso como verdade e tento absolver-me da culpa.
Renata, és completamente louca! Como podes ser assim, meu bem? Aliás, como podes ser assim e manter a face inocente e os olhos pretos brilhantes que transparecem tanta doçura e verdade?
E como podes ser tão verdadeira? Isso é o que eu menos entendo e o que mais me revolta! Como consegues tantos amores e amantes contando a eles todas as verdades que lhe pedem e até as que não lhe pedem?
Ah, Renata, eu queria era não saber das tuas verdades. Já chorei por algumas diversas vezes e sei que hei de chorar por outras. E pelas mesmas.

Meu bem, admiro o seu dom de mudar o tempo todo. Uma hora sente e na outra já está insensível e intocável. Numa hora chora e segundos depois ri tanto que chega a chorar novamente. E em momento algum, em seu rosto moreno e macio,  se pode ver arrependimento pela mudança.
É... Você não muda nunca!

Ah, Renata, por que você não muda? Por quê?!

Por vezes pensei sentir um ódio infindo de ti. Ledo engano.
Era ódio, sim. Certamente. Ódio dos grandes! Mas era ódio de mim, por não conseguir ver-te por um segundo sequer com os olhos que gostaria. Vejo-te com os habituais olhos apaixonados que sorriem de tristeza pedindo por conforto.
E dói. Dói muito.

Mas por que falo-te isso? Já sabes há muito tempo... Sabes, aliás, que não sou o único.
Sabe, Renata, você não muda porque nunca precisou mudar. Por que precisarias? Podes ter o amor que quiseres, sempre que quiseres, pois aprendeu a cativar e cultivar as pessoas, e ao mesmo tempo que maltrata os corações que a ti pertencem, sabes como acalmá-los com tuas palavras que obviamente mudarão em pouco tempo, mas que por agora soam e são tão sinceras.

E se não convencer?
Aí é só passar aquele batom vermelho, soltar os negros cabelos pesados e sorrir.