A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

terça-feira, 25 de junho de 2013

IV

Eu me arrumei toda, mas você não veio.
Usei aquela calça que você gosta porque destaca menos o meu bumbum, apesar de odiar abrir seus botões na hora de tirá-la. Usei também aquela blusa frente-única que você adora por poder ver melhor o formato dos meus seios e por poder acariciar minhas costas enquanto ainda a estou usando.
Usei pouca maquiagem, do jeito que você gosta: Pouco corretivo nos olhos, lápis apenas no canto externo até pouco antes da metade, mas sem pintar a linha d'água, delineado fino rente aos cílios e apenas uma camada de rímel. Sem batom, apenas com um pouco de brilho que sairia rápido, do jeito que você gosta.
Planejei tudo. Botei no celular umas músicas que queria te mostrar, pensei numa piada ruim pra te contar e pensei também num jeito sutil de te pedir para me levar pra sua casa.

Pensei até em confessar que estava com saudades.

Planejei sugerir uma bebida quando chegássemos em casa e sugeriria também que víssemos um filme. Qualquer um. Não o veríamos, o plano era esse. O filme seria só pra ser mais sutil quanto as minhas intenções.
Depois, faria com que me conduzisse até o quarto. Não sem antes me beijar ali mesmo na sala, me arrepiar a pele e me marcar o pescoço. E no quarto riria do jeito que você tanto gosta enquanto reclama da dificuldade para tirar minha calça. Eu o ajudaria e ajudaria também a tirar a sua. E aí te olharia ali de baixo por uns cinco minutos, até que minha boca procuraria a sua...
E depois de um tempo, quando me pedisse para que fizesse menos barulho, seguraria o apoio da cama com força na tentativa de me controlar.
E quando acabasse, ia deitar a cabeça no teu peito e fazer carinho na tua cabeça com a mão do braço que está por baixo do teu pescoço levemente arranhado e com marcas de dente. Mas não por muito tempo, eu sei, pois você me trocaria pelo maldito cigarro que você diz que te relaxa. E, mais uma vez, eu invejaria esse cigarro.
Mas você não veio...
Então eu realmente vi um filme.

E invejei o cigarro.

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