A culpada

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Nenhuma literatura está livre de ficção. E nem de verdade.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Segu(i)ndo a lei

Levava uma vida socialmente tranquila e particularmente conturbada.

Amigos, amores, paixões, e vícios: tudo sob controle.
Dívidas e pendências? Já não sabia o que era isso há tempos, estava tudo quitado.

Corpo e coração inquietos. Mas ora, isso é reflexo da juventude.
Pedia a saideira (por sua conta, claro) para poder ir rumo a outra diversão, a noturna. E enquanto esta não chegava, ia ao banheiro, e voltava sorrindo com entusiasmo para seus companheiros de noite.
E ia.
E a noite começava e terminava sempre do mesmo jeito. O que mudava era a companhia ao acordar.

Acordava. E mais uma vez tudo se repetia.
O eterno retorno retornava eterna e perturbadoramente.

"Está tudo sob controle", dizia com os olhos marejados.
Pobre ser.
Vida e consciência, ambas nada tranquilas e quase que inexistentes.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Fazendo planos para o futuro, reparei mais uma peculiaridade minha.

Pensei, refleti e anotei um monte de coisas. Enquanto fazia isto, algumas poucas lágrimas automáticas caíram e me deu uma sutil dor na garganta por não permitir que caíssem mais. Logo depois, quando estava quase no final do processo, caí na risada.

Lembrei da última vez em que fiz planos e analisei a forma como tudo ocorreu. Esse último planejamento ocorreu há cerca de um ano. Pois bem, vejamos o que aconteceu:

MUDANÇA.
Esta foi a palavra determinante nos meu palnos. Hoje vejo que "evolução" cairia melhor.
Mudei muito.
Mudei de ideias, de ideais, de conceitos, de opinião e aprendi a assumir que nudei.
Mudei de hábitos diversas vezes e de gostos mais ainda.
Mudei de amor uma porção de vezes e mudei a forma de amar.
Mudei meus vícios, prioridades e paixões.
Mudei minha forma de vestir, minhas gesticulações, minha forma de falar e também de escrever.
Mudei meus ídolos, minhas músicas, livros e filmes favoritos.
Mudei o pensamento radical.
Mudei.

E hoje, do jeito que estou, na mudança que sou, gostaria apenas de ser o que era e ter o que tinha há um ano.

Por isso ri. Planos não deviam ser para evolução? Desejo regredir ou regredi no insucesso dos planos anteriores?
É, a roda da fortuna sempre gira... Um dia estamos bem e no outro, planejando com lágrimas...

Mas, se isso for mesmo verdade, devo me animar com o próximo giro, certo?

Começarei desde já!

Ontem, eu gostaria apenas de ter usado outro sapato, de ter bebido menos e de ter você ao meu lado.

Por hoje, almejo apenas ver o sol, as pessoas caminhando, sorrindo, chorando, vivendo. Almejo caminhar, sorrir, chorar e viver com todas elas. Conhecer o mundo, andar livre por aí, sossegada, sem pensamentos secundários tão perturbadores que sobressaem os primários. 
Almejo cuidar e resolver meus problemas.
Só os meus.
Só por hoje.
Egoísmo, por um dia, passa a ser amor próprio.
Pretendo lançar-te fora dos meus pensamentos, mesmo os piedosos, da mesma forma que lancei-te fora da área emocional.
Almejo voltar a sonhar constante e profundamente com as coisas que só eu posso fazer por mim. Você que faça o mesmo por ti.
Vou seguir os meus conselhos, instintos e vontades, e isso, eu espero que pares de fazer, pois o resultado não é positivo. 
Mas não é desejo. É esperança.

Ah, eu não perco essa mania de esperar...
Perco, na verdade.

Será que é contagiosa a mania de mentir?

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A mão

Às vezes, quando penso em você, bate saudade.
Saudade de te ver feliz e da felicidade diferente das demais que senti e hei de sentir. Saudade das vozes engraçadas ao acordar, das brigas por bobeira, do filhote que já nem sei se ainda vive (vive?) e até da tua família infernal.

Outras vezes, ao pensar em ti, sinto raiva.
Raiva do que tivemos, raiva de insistência e raiva da desistência desse romance.

Por vezes, fiquei apática quando você me vinha à mente.
Sabe, não vinha nada. Nem choro, nem riso, nem ódio, nem ternura. Só a dor de ver-me tão insensível.

Em outros casos, já quis te esquecer, já quis te matar, já quis morrer.

Hoje, nos raros momentos em que ocupa meus pensamentos, só penso em viver.
Viver pra continuar a sorrir de novo e sempre, como me era de costume.
Viver para ter meus amores tão vastos, profundos e curtos, por conta da minha volubilidade (que hoje é assumida).
Viver para, quem sabe um dia, ver-te bem e feliz de fato, com os olhos sorrindo em minha direção com sinceridade e não apenas para provar-me algo.
Viver para ver-te crescer e poder agradecer a maravilhosa pessoa que será capaz de realizar este feito.
Viver para saber que estava certa, e que essa tal pessoa seria você.
Viver para que saibas que nunca quis e nunca lhe quererei mal, apenas já não lhe tenho amor.
Viver para que um dia aprendas a ler meus gestos, e ao contrário do que fazes aqui, sejas capaz de expor também o que sentes. Deixa eu ler você?


Ai ai, talvez eu deva mesmo é viver e aprender a não mais querer-te ajudar. 

Devo?

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ah, minha pequena, não sabes como odeio ver-te grande assim...
É de partir o coração vê-la driblando tantos amores entre um trago e outro. Bate saudade da tua pureza.

É triste ouvir sempre e somente a tua voz firme e séria, mesmo que numa roda de amigos. Bate saudade da voz infantil ao me acordar.

É lamentavel saber que adequou-se a um grupo teoricamente plural, mas que não passa de uma singuralidade. Bate saudade da tua estranha originalidade.

Terrível ver que os teus olhos continuam a brilhar apenas por estarem marejados, e não pela simples e descompromissada felicidade que transpareciam. Bate saudade daquela criança.

Penoso ter de vê-la tão linda, tão leve e tão livre dançando e sorrindo entre os braços desses pobres rapazes que podem jurar que a conquistam. Bate saudade da falta de ritmo e da sobra de compatibilidade.

Vergonhoso é ainda sentir-me mal a cada sorriso em direção a um olhar que não o meu, cada cheiro na nuca, cada puxada de cabelo e cada beijo noutro lábio. Bate arrependimento pelo ódio que me bateu e acabou batendo em ti.

Acabei.

Acabou.

Acho que o que dói mais é saber que consegues ainda ser feliz, apesar da tristeza, enquanto eu... Bate saudade do aprendizado particular de felicidade.



Em estado alcoólico elevado, chorei no ombro de um amigo. No balcão de um bar, na frente de todo mundo.
Com o rosto vermelho, fungando e com ânsia de vômito a cada tossida, o soluço daquela tristeza sincera ecoava pelo botequim.
"Ora, vai passar", dizia ele. Eu só conseguia pensar que o choro (aquele choro) passaria, mas a tristeza que vinha me acompanhando há quase um ano, não, mas como poderia explicar-lhe isso se mal conseguia respirar durante o processo de desidratação?

Depois de muitas lágrimas no balcão e do bar-man muito se incomodar, fui me recompondo.
- Está melhor?
- Acho que sim.
- Toma, bebe essa água...  Olha, ainda bem que você parou! Todos já estavam olhando!
- Ora, é da conta deles?
- Não, mas é estranho.
- Deixa ser!
- Tá certo...  Mas sabe uma coisa que não entendo? O porquê de vocês não se falarem.
- Como assim "não entende"? Tá brincando?
- Ah é, eu tinha esquecido... Agora a dúvida é outra.
- Diz.
- Por que você  ainda sofre por uma pessoa dessas? Uma pessoa que você não devia nunca nem ter amado...
- É, eu sei que é complicado, mas, se fosse com você, você também amaria.
- Pois eu duvido!
- Então duvide! Só não pague pra ver; te partiria o coração também.
- Não se preocupe, não pretendo sair do campo da dúvida. Não tenho essa curiosidade nem esse espírito aventureiro que você tem.
- HA-HA. Pode zombar mesmo. Mas você só não entende a minha dor porque seus amores nunca doeram!
- Claro que já! Você sabe que já!
- Então ainda doem.
- Não, porque, como já disse, tudo passa.
- Não, então não era amor.
- Claro que era! O que você sabe disso?! Amor também acaba. Tudo acaba. É triste, eu sei, mas veja pelo lado bom: A tristeza faz parte desse infinito grupo de coisas que acabam!
- Não! - Levantei-me.
- Você tá nessa e ainda se dá o luxo de acreditar em amor eterno? Sendo que nem é um bom amor. Sendo que nem se pode mais amar. Sendo que deixou de ser por um momento de ódio. Faça-me o favor...
- Faça-me você e me deixe pelo menos sonhar. Se eu não posso mais viver esse amor, ou amá-lo enquanto amante, deixe que sobrevivam as lembranças tão amorosas e amáveis que só não te mostro ou as retrato para não dividir, nem por um segundo sequer, o amor que eu guardei tão cuidadosamente dentro de mim, no canto mais escondido, no canto que mais tenho acesso.
- Isso é pedir pra sofrer. Assim, você não se permitirá um novo amor... E você tem o direito de ser uma pessoa amada de novo, e também de amar.
- Eu sei disso. Tenho outros amores, nunca deixei de ter, nem enquanto havia o amor eterno que teve fim, mas esses não são amores. São amores e ponto. Esse amor de que falo, é amor vírgula e amor de novo.
- Ai ai... Você não tem jeito mesmo. Desisto.
- Ótimo. Agradeço a atenção, mas não me venha com esse papo de que vai passar, porque eu não quero que passe e não vou deixar passar.

Fica o aviso.
Não vai passar.

sábado, 26 de abril de 2014

Eu queria uma namorada.
Idealizei uma moça engraçada, culta, que torcesse pelo mesmo clube de futebol que eu e que tivesse um gosto musical refinado.
Quanto a aparência, pensei numa moça alta, da pela branca, do cabelo preto e liso. Dos lábios cor-de-rosa e dos olhos amendoados e com cílios grandes (estes detalhes sempre me encantaram).

Encontrei uma criatura.
Andava por aí cantarolando a música estranha que ouvia em seu fone sem muito se preocupar se alguém a estava ouvindo. Evidentemente não era sua intenção ser ouvida, mas e se fosse?
Ela bebia às vezes e fumava sempre, e, nas poucas vezes que bebia, se levantava, gesticulava muito e quase que gritava pra conversar com seus amigos, que sempre riam e imitavam. Bem humorada (de um jeito diferente do qual imaginei), respondia-lhes com o dedo do meio e uma risada gostosa.
Dizia que não ligava pra futebol, mas quando assitia a algum jogo do time pelo qual tinha simpatia (que era justamente o maior rival do meu), comportava-se como um confirmado e fanático torcedor: gritava, falava palavrões, dava instruções que os jogadores jamais ouviriam, mas seu sorriso na hora do gol era uma graça.
Gostava muito de ler e se dispunha a ler de tudo, até o que obviamente não gostaria, só pra ter uma opinião definitiva e justa sobre. Lia muito e debatia mais ainda sobre o conhecimento adquirido e sobre a interpretação feita.
Tinha belos cabelos, mas não se preocupava tanto com eles: apenas os lavava e penteava, deixava o resto por conta da vida. E o mesmo acontecia com sua pele morena: deixava-a sempre respirar livremente, livre de cremes e maquiagens. A única coisa com a qual se preocupava em enfeitar era a boca, que estava sempre com um vibrante batom vermelho, ressaltando ainda mais a grandiosidade de seus lábios e a cor branca de seus dentes.
Ela sorria, tinha os olhos grande e brilhantes, e me contava sobre suas ideias loucas e sobre seus sonhos que cada vez tinham um detalhe a mais. Às vezes me vinha triste, cheia de lágrimas nos olhos e sem nenhuma vergonha de tê-las. Achava a vida realmente bela e não via motivos para não ser motivada como era.
Era ambiciosa: tinha muitos desejos, muita vontade, muitas opiniões, muitas causas e aguentava as consequências.

Era uma idealista nata.
Uma romântica inconsequente.
Dona de seu próprio nariz.
Dona de seu próprio corpo.
Criadora de seus interesses.
Realizadora de seus sonhos.
Era uma mulher.

Agora eu tenho uma namorada.